Angel sentia-se nua na presença de parentes. Era uma sensação estranha, desconfortável e fria. Mesmo sob o inverno cortante de 10º, vestida com pesadas vestes dos pés a cabeça, ela se sentia nua. Parecia que aos olhos dos outros, cada camada de roupa era transparente. Só ela se sentia assim. Será que seus pensamentos e sua volúpia poderiam ser adivinhados? Será que no fundo, no fundo, conheceriam sua vida secreta? Quem sabe. Angel pensava enquanto as tias falavam banalidades aos seus ouvidos. E ela ria com o sorriso amarelo de quem está exposto ao ridículo. Queria sair dali. Impotente, tentava esquecer a sensação que os olhos atentos das parentes lhe prestavam. Queria vestir-se de lucidez. Impossível. Estava tão presa àquela sala, quanto estavam seus pensamentos e suas sensações. Sem ter o que fazer, Angel serviu-se de mais uma xícara de café e continuou ali.
Em tempos de tecnologia sem fio, a ira é o resultado da falta de bateria nos equipamentos. Viciados em luzinhas, botões e acesso a sabe-se lá que tipo de conteúdo, perdem a cabeça quando a porcentagem cai para 10, 7, 5%. A incapacidade momentânea de espetar o celular, o computador ou a câmera parece durar uma eternidade. O que estão fazendo com o tempo? Para que tanto o que fazer na frente de uma máquina? A vida é transportada tela a dentro e a vida real perde espaço. A falta de toque, de contato, de estar junto parece não causar agonia. A falta de energia, sim.
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