Angel sentia-se nua na presença de parentes. Era uma sensação estranha, desconfortável e fria. Mesmo sob o inverno cortante de 10º, vestida com pesadas vestes dos pés a cabeça, ela se sentia nua. Parecia que aos olhos dos outros, cada camada de roupa era transparente. Só ela se sentia assim. Será que seus pensamentos e sua volúpia poderiam ser adivinhados? Será que no fundo, no fundo, conheceriam sua vida secreta? Quem sabe. Angel pensava enquanto as tias falavam banalidades aos seus ouvidos. E ela ria com o sorriso amarelo de quem está exposto ao ridículo. Queria sair dali. Impotente, tentava esquecer a sensação que os olhos atentos das parentes lhe prestavam. Queria vestir-se de lucidez. Impossível. Estava tão presa àquela sala, quanto estavam seus pensamentos e suas sensações. Sem ter o que fazer, Angel serviu-se de mais uma xícara de café e continuou ali.
Entrevistar é uma delícia. Uma das coisas mais gostosas na profissão de jornalista é poder entrevistar. Estou falando aqui das grandes reportagens (que não precisam ser imensas na extensão), não do feijão com arroz do dia a dia da redação - aliás miojo do dia a dia seria um termo mais preciso. Começar um bate-papo com um estranho e aos poucos vê-lo se abrir para você é ao maravilhoso. Vê-lo contar sua experiência de vida, se emocionar com lembranças. É um momento de confiança total, de entrega total. Daí a responsabilidade do jornalista e o respeito que deve ao entrevistado, à fonte. O resultado da entrevista é a publicação das impressões do jornalista misturadas às informações do entrevistado. E quanto mais você se encanta pela história, melhor o resultado final. Você publica um texto lindo e apaixonado. E seu entrevistado se vê naquelas páginas como nunca se viu. E se orgulha. E fica feliz.
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