– Quem come tão depressa assim não sente o gosto da comida - repetia incansavelmente a mãe de Alfredinho.  Ele parecia nem ouvir. Sua voracidade era tamanha que se empanturrava de tudo que podia até a barriga doer. Ah… e como doía. Era uma dor que sua mãe nunca poderia compreender. E para amenizar… ele comia.  Sempre fora assim. Já na primeira infância, o leite materno não o supria. Chorava de fome, a criança robusta e corpulenta, de bochechas rosadas e sadias.  Os anos foram passando e Alfredinho devorava cada dia com mais vontade. Na escola, além da sua merenda e da dos colegas, o garoto engolia os livros. E tal qual a comida, quanto mais comia, mais fome tinha.  Adulto, era compulsivo. Trabalhava, fazia piada, era a alma das festas. Mas estava sempre sozinho. Mentira. Alimentava-se para afastar a solidão. Enchia-se de pizza quando estava estressado. Adorava ler, acompanhado de petiscos e pipoca.   Passava os dias a tentar preencher um vazio interior ocupando a barriga.  Sua últi...