Angel sentia-se nua na presença de parentes. Era uma sensação estranha, desconfortável e fria. Mesmo sob o inverno cortante de 10º, vestida com pesadas vestes dos pés a cabeça, ela se sentia nua. Parecia que aos olhos dos outros, cada camada de roupa era transparente. Só ela se sentia assim. Será que seus pensamentos e sua volúpia poderiam ser adivinhados? Será que no fundo, no fundo, conheceriam sua vida secreta? Quem sabe. Angel pensava enquanto as tias falavam banalidades aos seus ouvidos. E ela ria com o sorriso amarelo de quem está exposto ao ridículo. Queria sair dali. Impotente, tentava esquecer a sensação que os olhos atentos das parentes lhe prestavam. Queria vestir-se de lucidez. Impossível. Estava tão presa àquela sala, quanto estavam seus pensamentos e suas sensações. Sem ter o que fazer, Angel serviu-se de mais uma xícara de café e continuou ali.