O anoitecer era o momento do dia favorito de Iara. Enquanto o sol se escondia atrás dos montes e as primeiras estrelas apareciam do outro lado do céu, ela contemplava o degradê da imensidão azul.
Gostava da sensação de torpor que aquela hora a fazia sentir. Era como se seu corpo todo adormecesse, junto com o poente. Ela até inventou um nome para essa sensação: febre crepuscular.
Quando o último raio de luz se apagava, Iara saía de seu transe e, como se nada tivesse acontecido, voltava a nadar e a encantar pescadores distraídos. A sereia do rio tinha inveja daqueles que tinham pernas e podiam sair mundo a fora.
Ela tinha o sonho de escalar montanhas, só para ver onde o sol se escondia durante a noite e onde a lua dormia durante o dia. Sonho impossível para ela. Devaneio, diziam-lhe os peixes.
Seus dias eram longos demais. O único instante em que ela esquecia de sua obsessão pela terra firme era durante o crepúsculo. Aquele era o seu instante de paz.
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