Pular para o conteúdo principal

Pensando sobre os pensamentos

Me disseram uma vez que você é o que você pensa. Também me disseram que é preciso pensar sobre os próprios pensamentos. Para os psicólogos a palavra para isso é elaborar.

Parece bobo pensar sobre o ato de pensar. Mas não é bem isso. A lógica desse exercício é pensar a respeito dos pensamentos que mais frequentemente nos visitam a mente. Positivos ou negativos? Bons ou maus? Sobre mim ou sobre os outros. Sobre questões filosóficas e humanas ou fofocas corriqueiras. São sábios, medíocres ou ignorantes?

Elaborar é algo como se olhar no espelho. Um ato que vai refletir quem eu sou de verdade. É mais que tudo um ato de coragem.

Ah… mas a mente é ardilosa, sempre encontra um meio de nos desviar, de autosabotar. Bem, tenho que lembrar que a mente não é algo à parte de mim. Minha mente sou eu. Assim como meu corpo sou eu.

Se me desvio de meu exercício de elaborar, é porque quero me esconder. Não quero me ver frente a esse espelho. Seria essa armadilha da mente um complexo de Dorian Gray?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Hoje de manhã

Ela sorriu e soltou um riso afetado, num misto de consentimento e temor.  Nada estava claro naquele futuro obscuro que abria suas cortinas a sua frente.  Deixar seu tesouro para trás, por poucas horas que fossem, era como atravessar um portal para um deserto. Mais que isso, para o vazio. E porque o tempo custasse a passar seu coração se afligia. Os olhos controlavam lágrimas de saudade. O tic tac do relógio soava como estacas em seu coração. Mas, o tempo, aquele sábio senhor de passos lentos, tem muitas faces. É também médico talentoso, administrador garboso e torturador impiedoso.

Autoanálise

Ao longo da vida cada um cria seus dilemas. Suas certezas e incertezas. Cria suas máscaras, suas valas, sua amarras. Com Maria Amélia não foi diferente. Vivendo intensamente o alto de seus 33 anos guardava segredos íntimos, culpas solitárias. Mas usava outras máscaras para disfarçar sua melancolia. Se mostrava forte, durona. Afetada. Espirituosa. Disponível. Crítica em demasia. Chata. Superficial. Queria ser vista assim. Afinal, essa era sua zona de conforto. Quase nunca chorava em público. Quase nunca discutia. Engolia o choro e a raiva. Na adolescência, não havia travesseiro nem diário para compartilhar suas dúvidas. Dividia o quarto com dois irmãos dedo-duros. Sua mãe nunca fora boa em guardar segredos, mas bisbilhotar! Ah, isso ela sabia como ninguém. O refúgio de Maria Amélia era o chuveiro. A água quente lavava a face, levava as tristezas ralo abaixo e abafava os soluços. O tempo passou. Ela cresceu. Saiu de casa. Se casou. Até que numa noite morna de dezembro se lem...